Entre Argila e Afeto: Uma Metáfora do Amadurecimento Emocional
- Carol Zanoni
- 9 de jul.
- 2 min de leitura
Fui a uma aula de cerâmica. Sei lá, tem vezes que precisamos fazer algo diferente para entendermos o nosso sentido na vida. Sinto que precisava encontrar algo. Ao tocar na argila, eu estava com muito medo. A professora, carinhosa e com muita paciência, foi me explicando como moldar a argila. Sua voz tranquila e segura me deixava à vontade para explorar todo o meu potencial naquele momento. Eu me senti completa, realizada e feliz.
Certo dia, fui fazer minha aula costumeira de terça à tarde, e a professora com quem criei aquela conexão não tinha ido. Estava com problemas pessoais... Como assim? Me deixou aqui sozinha? Não consegui trabalhar nada. Parecia que minha criatividade tinha sumido. Fiquei até com vontade de chorar.
Na outra semana, cheguei desanimada, mas ela estava lá ,gentil e receptiva, e me propôs um desafio: “Sinta a argila, toque com suavidade, segure com firmeza e crie um lindo pingente. Ele vai representar tudo que você aprendeu aqui, toda a sua criatividade. E, mesmo que eu não esteja presente como sua instrutora, ao estar com ele, você se lembrará das nossas aulas e de todo o potencial que você tem.”
Essa metáfora mostra que a professora foi, simbolicamente, o que Winnicott chamaria de “mãe suficientemente boa”. Ela ofereceu um ambiente seguro, e de atenção aquilo que o autor define como holding, o “segurar” emocional. A forma de guiar as mãos, também representava o handling : o cuidado físico e o manuseio adequado, que transmitem ao bebê (ou a aprendiz) segurança.
E o pingente tornou-se mais do que um enfeite: representava o cuidado recebido, o espaço seguro, mas também minha autonomia sendo criada. É exatamente isso que o psicanalista Donald Winnicott chamou de objeto transicional: algo que, para a criança, simboliza a continuidade do cuidado e da presença amorosa mesmo quando o outro não está fisicamente ali.
Assim como o bebê precisa do paninho, da naninha, para suportar a ausência da mãe e continuar sentindo-se inteiro, o pingente será a transição levando a uma internalização objetal. Dessa forma, essa metáfora demonstra que, no caminho, contamos com figuras que sabem nos sustentar, cuidar e desafiar, mas também ajudam a moldar um emocional independente, e um verdadeiro self. *Texto escrito na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento
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