Relacionamentos à Luz da Psicologia: Aprendizados do XII Simpósio da ATC-RS
- Carol Zanoni
- 7 de jul.
- 3 min de leitura
Sábado, dia 05 de julho, participei de um simpósio no Plaza São Rafael, em Porto Alegre, organizado pela ATC-RS. O tema principal foi os relacionamentos vistos à luz da Psicologia, com foco em como diferentes abordagens terapêuticas lidam com questões afetivas e sexuais no consultório.
Como graduanda em Psicologia, tenho buscado cada vez mais conhecimento e aprofundamento teórico e prático, e este evento foi uma oportunidade incrível para isso. Ao longo do dia, foram realizadas palestras e também dramatizações de atendimentos clínicos ao vivo, os chamados role plays, em que psicólogos encenaram situações terapêuticas com pacientes fictícios, trazendo exemplos realistas e potentes da prática clínica.
Foi um dia inteiro de trocas riquíssimas, com profissionais de diversas linhas — das Terapias Cognitivas, Terapia de Aceitação e Compromisso, à Terapia Comportamental Dialética e Psicodrama — compartilhando vivências clínicas e dramatizações que tocaram profundamente.
Abaixo, compartilho um resumo das palestras e os aprendizados que mais me marcaram ao longo do dia:
💔“A dor de precisar” – Psic. Me. Paula Cassel
Sobre dependência emocional e o desafio da autonomia
A palestra abordou o tema da dependência emocional sob a ótica dos esquemas disfuncionais de abandono, submissão e rejeição. Paula destacou a importância da relação terapêutica como espaço de segurança para reconstrução do vínculo saudável.
"A confiança e o vínculo são curativos por si só."
❤️ “Quem é o amante?” – Psic. Esp. Mariana Balardin
Repensando a infidelidade como expressão do self
Com uma perspectiva sensível e provocadora, Mariana convidou os terapeutas a olharem para a infidelidade com curiosidade e não julgamento. A traição, muitas vezes, é expressão de feridas do apego, da dificuldade em se vulnerabilizar e da tentativa inconsciente de acessar o verdadeiro self.
“Na verdade, o infiel muitas vezes é infiel a si mesmo.” “A traição pode ser uma estratégia disfuncional de suprir necessidades emocionais.”
A palestra também trouxe a ideia de múltiplos tipos de traição: sexual, emocional, financeira e até intelectual — como compartilhar sonhos com alguém fora do relacionamento. E nos lembrou que o terapeuta deve ser, sempre, um curioso, e não um julgador.
😓 “Hoje não rola, amor” – Psic. Esp. Rita Nunes
O impacto da sociedade do cansaço na sexualidade dos casais
Rita trouxe uma reflexão potente sobre como a correria e a pressão por performance invadem até a intimidade dos casais. A ausência de presença real e o cansaço emocional minam o desejo.
“A presença na vida e no sexo é fundamental.” “O mindfulness pode ser um caminho para restaurar a conexão com o outro e consigo.” “Desvalor, desamparo e desamor são experiências silenciosas que sufocam o erótico.”
💬 “Tenho vergonha do meu corpo” – Psic. Me Bolivar Filho
Autocompaixão como ponte entre corpo e prazer
Bolivar nos lembrou que vergonha corporal e sexualidade estão profundamente conectadas, e que práticas de autocompaixão podem ajudar a resgatar o prazer e a autoestima.
“Todo mundo falha. Sofrer faz parte da experiência humana.” “É preciso diminuir a culpa de sentir culpa.” “Autocompaixão é fazer o que é importante para mim, mesmo que desconfortável.” “Tudo bem sentir vergonha.”
O conceito de humanidade compartilhada foi um dos mais tocantes: lembrar que somos imperfeitos, e que isso nos une.
🧠 “Dra, eu sou brocha!” – Psic. Dra, Lina Wainberg
Desconstruindo crenças masculinas e padrões tóxicos
Lina trouxe à tona a pressão da masculinidade performática e como ela afeta a saúde sexual dos homens. Com muito cuidado, propôs intervenções para acolher a dor e flexibilizar expectativas internalizadas desde cedo.
“A crença de que o homem precisa sempre querer e sempre conseguir é destrutiva.” “Muitos homens têm vergonha de buscar ajuda por medo de parecer fracos.”
💡 Pôket: “Aceitação, o elo perdido” – Psic. Dra. Mara Lins
Como a aceitação transforma o vínculo no casal
Mara nos lembrou que mudanças verdadeiras só ocorrem quando são genuínas — e que, muitas vezes, queremos mudar o outro ao invés de aceitar.
“Se não for genuíno, não haverá mudanças.” “Conflitos sempre existirão. O importante é torná-los menos intensos e mais conscientes.” “A impermanência, como ensina o budismo, nos ajuda a aceitar que tudo muda – inclusive o amor.”
🧪 “Deu match, mas deu ruim” – Psic. Me. Kelly Paim
Relações baseadas na química esquemática
Kelly apresentou como os esquemas emocionais moldam nossas escolhas amorosas. Muitas pessoas se envolvem repetidamente com quem ativa seus gatilhos, perpetuando dor.
“Romper o padrão exige consciência, coragem e muita compaixão.” “Relacionamentos tóxicos nem sempre são violentos – mas são repetitivos, esgotantes e previsíveis.”
Conclusão:
Saí do simpósio com o coração e a mente cheios. Mais do que técnicas, o que ficou foi o lembrete da importância da presença, da escuta sem julgamento e da aceitação genuína , de si e do outro. Cada encontro, cada conflito, cada escolha relacional pode ser uma oportunidade de crescimento, desde que vivido com autenticidade e consciência.
Que possamos levar essas reflexões para a vida, para os atendimentos, e principalmente, para os nossos próprios vínculos
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