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Clara e as Canecas Tortas da Vida

  • Foto do escritor: Carol Zanoni
    Carol Zanoni
  • 21 de jan.
  • 3 min de leitura

Clara estava sentada no sofá, vestindo seu pijama mais confortável e segurando uma xícara de chá nas mãos. A expressão em seu rosto traduzia exatamente o que sentia naquele momento: um misto de tédio e confusão.


Sua vida parecia girar em círculos, como uma música colocada no repeat. Cada dia era igual ao anterior, sem sabor, sem propósito. Entre um gole de chá e uma espreguiçada dramática, ela pensou: “O que estou fazendo da minha vida?”

Essa epifania foi o primeiro passo. Clara sabia que algo precisava mudar, mas o quê? Ou melhor, para onde? Sem respostas claras, ficou zapeando no celular.

Nos dias seguintes, Clara percebeu que nesse mundo artificial das redes sociais não encontraria as respostas para sua vida. Entendeu que precisava se conhecer mais para compreender qual era o seu propósito. Decidida, mergulhou no mundo do autoconhecimento. Livros de autoajuda se acumulavam na sala, post-its coloridos ocupavam cada canto disponível, e a playlist de podcasts motivacionais tocava sem parar. Em uma página de um desses livros, ela leu algo que a deixou pensativa: “Você não precisa encontrar seu propósito. Ele já está dentro de você, esperando para ser descoberto.”

“Ótimo, mas como faço isso mesmo?” — resmungou para si mesma, enquanto fechava o livro no quarto capítulo.

Meio contrariada, Clara resolveu se arriscar. Já que os livros não traziam respostas extas, começou a experimentar. Yoga, culinária, costura... Cada tentativa era uma nova chance de descobrir o que fazia seu coração bater mais forte. Algumas aventuras foram divertidas; outras, nem tanto. Houve um episódio constrangedor com sua calça rasgada na aula de yoga e uma aula de culinária que abandonou no meio porque, segundo ela, “cozinhar é um tédio absoluto”.

Até que, um dia, uma amiga a convidou para um ateliê de cerâmica. Clara não esperava nada. Afinal, era só mais uma tentativa. O que o “barro” pode ter de interessante? Mas algo aconteceu ali.

Com as mãos cobertas de argila e o cabelo bagunçado caindo sobre os olhos, ela sentiu uma espécie de paz. Moldar a argila era como moldar a si mesma. A primeira xícara ficou torta, mas Clara não ligou. Era como se a cerâmica estivesse dando forma a algo que ela não sabia que precisava.

Os dias no ateliê viraram semanas. Clara começou a criar suas peças: canecas tortas, vasos que sua mãe carinhosamente chamava de “arte conceitual” e até algumas peças tão abstratas que nem ela sabia explicar.

Mas nem tudo era perfeito. Teve aquele dia em que uma peça quebrou no forno, e Clara chorou muito, como se liberasse todas as emoções reprimidas de outras coisas que "quebraram" dentro dela. E houve outros momentos em que a insegurança a dominava: “Quem sou eu para achar que posso fazer algo assim? Existem tantas pessoas mais talentosas que eu!”

Mesmo assim, Clara continuou. Estava aprendendo que a vida, assim como suas peças de cerâmica, era imperfeita, torta e, ainda assim, incrivelmente bela. Uma manhã, enquanto bebia café em uma de suas próprias canecas tortas, Clara teve uma ideia ousada: “E se eu transformasse isso no meu trabalho? E se criar peças pudesse ser mais do que um hobby?”


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Foi assim que nasceu a ideia brilhante: criar sua própria coleção, chamada Raízes de Cerâmica. Clara não queria apenas vender peças; queria criar conexões. Mostrar às pessoas que, assim como a argila, todos nós podemos nos moldar, transformar e crescer.

Para dar vida ao plano, Clara buscou mentoria. Lá, encontrou mais do que estratégias para empreender. Encontrou apoio, incentivo e aquela voz amiga que dizia: “Vai lá, você consegue.”


O dia da primeira venda chegou. Clara segurava sua primeira encomenda embalada, pronta para enviar, com um misto de alegria e pânico. Confessa que teve um mini ataque de ansiedade controlado com chocolate, mas venceu o medo e seguiu em frente.

Essa venda foi como uma mensagem para si mesma: “Tá vendo? Você pode!” Era exatamente o que Clara precisava para entender que estava no caminho certo. Sentiu algo maior do que felicidade ao vender uma peça — uma sensação indescritível de propósito. E assim, Clara seguiu. Entre risadas, crises e canecas tortas, ela descobriu que o caminho não precisava ser perfeito. Só precisava ser dela.


Nota da autora: O trabalho pode ser uma das formas de encontrarmos o nosso propósito. Há inúmeras maneiras de dar sentido à nossa vida, mas quando conseguimos alinhar aquilo que nos traz satisfação com um retorno financeiro, criamos um dos caminhos possíveis para a realização pessoal e profissional.

Embora a história de Clara seja fictícia, ela representa algo muito real: a necessidade de termos clareza sobre nossos objetivos e de buscarmos significado no que fazemos. E você, qual é a sua história? O que está moldando o seu propósito?

Caroline Zanoni - Mãe ,empreendedora, graduanda de Psicologia e Professora de Gestão de negócios para autônomas na @desenvolva_

 
 
 

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